Seguindo nossa lista das 4 habilidades que as escolas não ensinam, hoje vamos falar sobre liderança! O que é ser líder para você? Desenvolvemos liderança, ou só quem nasce líder é quem comanda? Que tipo de equipe você lidera? Um tema bem legal e abrangente mas que podemos desconstruir e enxergar de várias outras perspectivas e com aplicações diferentes do usual. Fique até o final, pois vamos falar sobre um tipo de liderança que talvez você ainda não conheça! Vem com a gente nesse papo reflexivo!
Liderança
“Ah...mas, líder, se nasce, tem gente que tem perfil já, você percebe desde pequeno”, claramente: NÃO! Desde muito cedo somos induzidos a acreditar que existem líderes e liderados, que se não é um, é o outro. Soa até algo claro e óbvio mas as coisas não são tão preto no branco assim!
Existem diversos conceitos sobre liderança, comparativos entre “líder e chefe” e muitos livros sobre essa temática. Como é um texto rápido, vamos falar sobre algumas coisas e o que você sentir falta, ou puder complementar, até mesmo corrigir, sinta-se mais do que convidado, ou convidada, a acrescentar nos comentários deste post!
Quando pensamos em um líder de uma empresa, que lidera uma equipe, pensamos em alguém que entregue as demandas, da forma mais eficaz possível, que motive a equipe e que tudo isso ajude nos lucros da empresa. Usando um exemplo bem simples e clichê. Mas quais características que tornam essas realizações possíveis? Para entregar as demandas, penso no senso de urgência, a capacidade de compreender e enxergar um objetivo com prioridade e foco. Podemos pensar em planejamento, pessoas que enxergam os passos que devemos seguir e consiga “traduzir” isso de forma simples e organizada. Isso tudo e outras características, podemos aprender, ou já nascemos com elas? Como tudo na vida, algumas pessoas tem facilidades com determinadas ações e outras não mas, sim, podemos desenvolver essas habilidades!
Como já falamos nas primeiras postagens dessa série 4 habilidades que as escolas não ensinam, a autorresponsabilidade é fundamental – para um líder, então, nem se fala! -, afinal, a ideia é que se tenha a plena certeza de que quem nos lidera deve, no mínimo, ser ético, profissional e muito esclarecido para compreender quando deu uma instrução não tão clara para a equipe e que não responsabilize a equipe, ou crie algum bode expiatório, só para se safar! Em seguida falamos sobre o autoconhecimento, também é uma questão muito importante, afinal quem trabalha com pessoas, precisa entender de pessoas e isso começa entendendo a si próprio. E depois falamos sobre Networking, afinal, quem lidera e não tem uma boa relação com as suas conexões, talvez esteja no papel errado!
Afinal, ser um líder não é só entregar resultados, precisamos compreender como as pessoas funcionam, quais gatilhos as incentivam, quais as inibem, qual abordagem é adequada para um grupo, qual abordagem se deve ter para outro. E, sejamos sinceros, quem trabalha com pessoas, precisa estar bem consigo mesmo e saber como lidar com a vida pessoal para não projetar seus problemas na sua equipe. Por isso, é extremamente recomendado que cargos que lidem com pessoas o tempo todo, façam terapia. Isso ajuda no processo e na qualidade da prestação do serviço que for.
O exemplo até agora,foi para uma pessoa de empresa, inicialmente, mas será que vocês enxergam que professores e pais também exercem o papel de líderes? Os professores, por exemplo, levam uma sala inteira do conhecimento zero de um conteúdo, até compreenderem este conteúdo e realizarem uma apresentação em sala de aula, ou uma prova, lidando com as diferentes formas de aprender, diferentes desenvolvimentos biológicos e dificuldades diversas. Muitas vezes é “aos trancos e barrancos” mas ainda assim é conquistado o objetivo na maior parte das vezes! Já para os pais, fazem com
que seus filhos sejam pessoas agradáveis, proativas, educadas e cidadãos que você se orgulhe, é um mega trabalho, afinal você precisa prestar atenção nos seus atos, pois crianças não ouvem palavras, seguem exemplos! E tudo isso é um trabalho enorme pra ambos os lados.
Uma experiência pessoal...
Uma das reflexões que eu fazia com os alunos em sala de aula (na época em que eu era professor de Ciências) era: “algum professor já ensinou exatamente como fazer um trabalho?”. Muitas vezes eu via apresentações de trabalhos extremamente robóticas e um verdadeiro tédio, outras eu chegava na sala e os alunos arrasados porque um professor mais exigente odiou as apresentações. E minha dúvida era se alguém já ensinou exatamente como fazer um trabalho de escola para apresentar para a sala. A resposta era sempre um não, pelo menos na minha experiência. Mas parando um pouco para pensar na nossa própria vida escolar, será que alguém nos ensinou a apresentar um trabalho? Mas digo naquele sentido de ser mesmo uma explicação e desenvolver essa atividade de forma incrível, ter dicas, formatações e experimentações diversas, quase uma supervisão, ou um curso de “como apresentar trabalhos”. Dicas e pequenas formas de uma apresentação, de forma fragmentada, a gente recebe, mas e de qualidade? Pensando nisso, após esse insight, fiz uma aula apontando as formas de apresentar um trabalho, no que focar, perguntando o que eles gostariam de ver em
uma apresentação e por aí vai, construindo coletivamente e orientando de uma forma que existisse uma organização e um passo a passo.
Embora cada um tenha uma forma de apresentar, ensinar, exigir trabalhos/apresentações, considero uma aula/vivência muito legal para o ensino fundamental II, pois estão desenvolvendo uma base, criando referências, sendo importante ter pelo menos uma referência que dê o norte do que se deve ser feito e depois, mais pra frente, elaborarem da forma que acharem melhor! Em seguida comecei a passar trabalhos onde eles pudessem ser mais livres, usando a mídia, linguagem e forma que quisessem, desde que fosse adequado de se fazer na escola, que o foco fosse no conteúdo a ser transmitido e que tudo fosse o mais criativo e diferente de tudo que eles já viram, tudo inovador.
Nesse processo, basicamente, falei sobre uma “dor”/demanda que os alunos tinham, conversamos e elaboramos o que seria um bom trabalho e em seguida fomos para o momento de experimentar, criar e mostrar ao mundo (no caso, a sala de aula). Os critérios que eu utilizava para avaliação eram: Criatividade, Estética (no sentido de ser clara a forma de passar o conteúdo visual, organizado, afinal a bagunça e brincadeira podem existir mas de uma forma que faça sentido e que faça parte do que se quer passar), Domínio do conteúdo e Auto avaliação.
Era uma época curiosa, pude presenciar trabalhos mega criativos e bem feitos, ao mesmo tempo que outros nem tanto mas que sentia que tinham feito o máximo, o que também tinha muito valor, afinal criatividade se desenvolve (assim como liderança)!
E isso tornava muito mais divertido, lúdico e confortável de se dar aula, os laços entre professor e aluno se fortaleciam e ficava mais fácil de caminhar ao longo do ano com os conteúdos.
E isso foi um exemplo de liderança? Pensa comigo, vamos destrinchar, quando você ouve um pré-adolescente ou adolescente verdadeiramente, eles se sentem parte da atividade, pois são levados a sério, quando você os leva a participar de algo que a construção do conhecimento é coletiva, eles sabem que fizeram parte daquilo. Quando são colocadas temáticas que necessitem de responsabilidade mas de formas inusitadas, eles encontram um motivo para realizar a tarefa com vontade. E quando você faz com que todos busquem ideias e trabalhem em prol da criatividade é como se eles tivessem uma licença para deixar uma marca no mundo. Ainda assim, se alguém se decepciona, ou frustra por não chegar onde queriam, isso abre espaço para que você discuta de forma saudável e adequada sobre o caminho, sobre viver o processo, sobre se esforçar e diversas temáticas maravilhosas para trabalhar em sala de aula e fortalecer a ideia de que eles são capazes. Por experiência própria, posso afirmar que ações desse tipo ajudam a desvelar e enaltecer habilidades incríveis que estão ali, em cada aluno, mas que só precisavam de um empurrãozinho para sair! Isso é liderança!
Não sei se vocês perceberam mas todos os textos desta série sempre falam muito sobre
a palavra adequação. Isso é proposital, pois é sempre necessário - e extremamente importante - que todas as suas ações estejam de acordo com as regras da escola, o que é permitido em sala de aula, ou até mesmo aceitável socialmente, tudo para que não traumatize as crianças, ou a experiência fuja do controle, ou crie algum problema para a escola, você, os pais, ou os alunos. Então precisamos pensar nisso, ações controladas e seguras mas que permitam a liberdade! Difícil né?! Grandes desafios para os professores, eu sei mas pensemos sempre na educação, na experiência dos alunos e no quanto isso pode ser benéfico para a sociedade! Às vezes, é necessário chocar (ou muitas vezes), também, mas tenha sempre em mente onde você quer chegar e como vai ser o caminho que você está propondo para todos caminharem!
Ações que promovem a autonomia de forma lúdica, são interessantes, pois ao se sentirem mais confortáveis, os alunos começam a experimentar mais, se jogam mais, arriscam, tudo isso por se sentirem em ambiente protegido e confortável. Por isso é muito importante saber lidar com as diferentes situações e personalidades dentro de uma sala de aula, quanto menos se inibe, mais você promove saúde dentro da sala de aula e, também, cria situações para falar abertamente sobre comportamento com eles e outras temáticas. E, lógico, tudo trazendo para a realidade e possibilidade de onde se está!
E quando o professor experimenta, com ações bem planejadas e embasadas em teorias
e metodologias consistentes, junto com os alunos, é como se a construção fosse criativa por completa. A abertura que o professor se dá, reflete na abertura que os alunos podem ter! É necessário coragem, muitas vezes mas sempre vale a pena. Professores são líderes com uma responsabilidade enorme, trabalham com as fases mais marcantes/importantes da vida dos estudantes e não desenvolver essa habilidade é um desperdício, principalmente para o próprio professor, pois da mesma forma que queremos que os alunos floresçam, temos que entender e querer que os professores também revolucionem!
Consequentemente essas ações podem ser aplicadas fora da escola, as sensações, descobertas, emoções envolvidas em atividades desse tipo trazem benefícios e uma vontade de "quero mais”, se compreender e querer buscar por mais coisas que façam os alunos se sentirem vivos, felizes, parte de algo e que crie memórias incríveis é um belo objetivo de trabalho, é nos faz nos desafiarmos a estar em constante evolução.
Um tipo de liderança...
E da mesma forma que existem diversas classificações do que é liderança, existem diversos tipos de liderança. Mas uma em especial quero dividir aqui neste texto com vocês, é a liderança emergente.
Um líder emergente é aquele, ou aquela que não está no comando na maior parte do tempo mas que em um determinado momento, uma situação que o grupo travou, essa pessoa chega com aquela solução que desbloqueia e faz com que o trabalho chegue onde tem que chegar da melhor forma possível. Consegue liderar a ideia e a equipe naquela atividade como se fosse o próprio líder da equipe (e naquele momento e ação, realmente ela, ou ele, é!). E o mais legal, é que isso vai rotacionando em um grupo, ora é um, ora é outro, ora é necessário que o líder propriamente dito, como o professor, por exemplo, intervenha e por aí se segue a dinâmica de um grupo. O que torna tudo muito mais saudável e enriquecedor na experiência profissional e escolar.
Por isso uma das qualidades mais potentes de um líder é a escuta ativa. Quem escuta verdadeiramente consegue absorver as habilidades do grupo e as colocar em evidência e funcionamento no momento necessário, fazendo com que todos se sintam parte da ação em questão. A escuta ativa é o “degrau” para que um líder emergente possa subir e falar “tive uma ideia!”. E pense comigo, o líder tem o papel de fazer com que as coisas funcionem bem e de forma eficaz, enaltecer qualidades, dividir responsabilidades (dentro do adequado e possível). Proporcionar uma atmosfera que favoreça o trabalho em equipe, atingindo esses quesitos citados e conseguindo direcionar um bom trabalho em equipe, facilita a vida de quem lidera, dos liderados e do local que se esteja prestando serviço e profissionalmente, não seria esse o equilíbrio que gostaríamos de atingir (bom, pelo menos um deles)?
A liderança é algo que está em nossos papéis profissionais, entre nossos grupos de amigos, casa, família, relações em geral e se bem trabalhada/desenvolvida nos traz benefícios infinitos. Somos líderes de nós mesmos! Entender nossa história, caminhos e o motivo de fazermos o que fazemos, é muito importante. Sermos autores, não atores, de nossas próprias vidas.
Ter o papel de líder é maravilhoso mas também é uma responsabilidade enorme, cargos de coordenação, direção, chefia, donos e donas de casa, policiais, professores, instrutores, qualquer profissão que exija muito de nossas habilidades mentais, sociais e que nos coloquem em contato direto com esse seres complexos, que são os seres humanos, precisam de apoio. Seja para não nos sentirmos sozinhos, termos onde e com quem desabafar sem sermos julgados, aliviar estresses, traumas da vida, enfim, quem cuida, precisa ser cuidado para que não jogue as feridas em que não as merece!
Pensemos em eficiência, alta produção, lucros e tudo mais que o mundo nos exige, só não devemos nos esquecer do AUTOCUIDADO. Ninguém, mais do que você, é quem deve se preservar e cuidar! Reconhecer limites e saber quando dizer "basta!", é uma forma de liderar a própria vida!
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